25 março, 2017

Acesso para todos - Revista E.

Essa matéria foi reproduzida da página da Revista E do Sesc, com a matéria Acesso para Todos. A pesquisadora desse blog em dança inclusiva e acessível cultural Daniella Forchetti, juntamente com as professoras convidadas Amanda Tojal e Lívia Motta falaram sobre os recursos de mediação, audiodescrição e tradução, exposições, espetáculos, filmes e espaços de cultura que ampliam a inclusão de pessoas com deficiência.



Foto: Divulgação da Revista E
 
Quarenta e cinco milhões de pessoas no Brasil têm algum tipo de deficiência. É o que mostra o último Censo, de 2010. Somente no estado de São Paulo, são quase 9 milhões, o que representa perto de um quarto da população da região. Diminuir as barreiras encontradas por esse público para o acesso a espetáculos, peças, exposições, filmes e atividades culturais tem sido um dos desafios dos últimos anos, e cada vez mais espaços têm se mostrado sensíveis a essa necessidade.

Na capital paulista, em teatros como o do Sesc Santana, Centro Cultural São Paulo, Tom Brasil e Sérgio Cardoso já se tornaram frequentes as apresentações de espetáculos com audiodescrição e interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cinemas também começam a se preparar para a exibição de filmes com acessibilidade, principalmente após a Instrução Normativa 128/2016, segundo a qual todas as salas terão até dois anos para fazer as adaptações necessárias para oferecer legendagem descritiva, audiodescrição e Libras.

“No Brasil, São Paulo é um estado que tem se destacado por ter espaços de exposições, espetáculos e cinema que estão se abrindo para oferecer recursos de acessibilidade como audiodescrição e tradução para Libras”, observa a audiodescritora e pesquisadora em Inclusão Daniella Forchetti. “Além disso, outro estímulo se deve ao fato de que hoje muitas leis de incentivo pedem, como contrapartida, que se ofereçam espetáculos com audiodescrição ou Libras.”

A doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Lívia Maria Villela de Mello Motta percebe que espaços culturais, produtores de espetáculos e produtos audiovisuais, incentivados por políticas públicas de acessibilidade, têm começado a se dar conta da importância desse público que precisa de recursos comunicacionais para ter acesso à arte. “Não dá mais para conceber um espetáculo, um produto audiovisual ou uma exposição sem levar em consideração o acesso de todos os públicos. Os recursos de acessibilidade arquitetônica e comunicacional utilizados em uma exposição para pessoas com deficiência, como maquetes táteis, audioguias, piso tátil, placas em dupla leitura, pranchas em relevo e outros, chamam também a atenção do público em geral e valorizam o espaço”, avalia Lívia, que destaca ainda a necessidade de se prepararem funcionários, monitores e educadores para o atendimento a pessoas com deficiência.

A museóloga e educadora em museus Amanda Tojal defende que se pense a acessibilidade sempre como um tripé. “Temos que pensar na acessibilidade física, que leva em conta a construção de um espaço que permita que as pessoas entrem, circulem e saiam com segurança; na comunicacional, com recursos para facilitar o entendimento de diversos públicos; e na atitudinal, que cuida da formação, do atendimento ao público e da recepção das pessoas com deficiência”, afirma.

Na prática

Lívia explica que a audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual, seja de um espetáculo, um produto audiovisual ou um evento: “É um tipo de tradução que transforma imagens em palavras, do meio visual para o verbal. Esse recurso se destina à pessoa com deficiência visual, pessoas com deficiência intelectual, com autismo, déficit de atenção, dislexia, idosos, crianças e outras pessoas sem deficiência, pois dá muito mais independência e autonomia ao indivíduo”.

Para fazer a audiodescrição, é preciso elaborar um roteiro, que costuma contar com a consultoria de uma pessoa com deficiência audiovisual. No caso de uma peça de teatro, por exemplo, os responsáveis pela audiodescrição precisam estar interados de todo o material do espetáculo, incluindo texto, e-flyer, release, cronograma de ensaios e um vídeo do espetáculo na íntegra para elaborar o roteiro de audiodescrição. No dia do espetáculo, são utilizados equipamentos como os da tradução simultânea, em uma cabine acústica onde fica o audiodescritor, que transmite todos os elementos visuais para a pessoa com deficiência por meio de um receptor e um fone de ouvido.

Há uma série de cuidados a serem tomados na implementação da audiodescrição, seja em um teatro, museu ou cinema. “Não se trata apenas de oferecer o serviço, ou seja, preparar o roteiro de audiodescrição, fazer a revisão e a narração. É muito mais do que isso. É preocupar-se com a divulgação, a preparação de convites acessíveis, com fazer chegar a informação até o público-alvo. É saber como esse público chega ao local e informar sobre os meios possíveis de transporte, linhas de ônibus, a proximidade com metrô. É interagir com esse público, conhecer suas preferências, a apreciação que fazem do serviço”, comenta Lívia.

Daniella lembra que a audiodescrição tem ainda uma função mediadora. “Você não só informa, mas cria formas para que a pessoa possa interagir com a obra, pensar sobre a obra e se relacionar com aquilo, principalmente de forma autônoma, com potencial para desfrutar, como a fruição da arte pede”, avalia a pesquisadora. “Não deixa de ser um material educativo e que abre novas possibilidades para que as pessoas possam interagir e pensar as obras de forma diferente, trazendo uma outra vivacidade na relação com o espectador.”

Entre as diversas atividades de mediação que podem complementar a fruição artística, está a confecção de painéis táteis ilustrativos, maquetes, bonecos, visitas ao cenário do espetáculo, interação com artistas e bate-papo com o diretor. “Temos tido a oportunidade de trabalhar com essas atividades de mediação no Sesc Santana no projeto Para Todos, desde o ano passado, e tem sido uma experiência muito bem-sucedida. Em peças ou filmes infantis, as crianças podem tocar bonecos, painéis táteis, fazer atividades que ampliam o entendimento e que, aliadas à audiodescrição, tornam a experiência inesquecível. Também para adultos, temos feito visitas ao cenário, contato com objetos cênicos e figurinos, oficinas de dança para melhor compreensão das coreografias”, conta Lívia. “Como resultado positivo, temos percebido a ampliação e a fidelização do público, principalmente do público infantil, o interesse do público sem deficiência pelas atividades e pelos recursos de acessibilidade.”

Sentir para ver

Criar experiências acessíveis, muitas vezes, implica superar desafios. Em museus, onde os objetos são muito importantes, não basta apenas uma descrição do que está lá exposto. Amanda lembra que quem vai a uma exposição busca fruir as obras, participar, e não só ouvir. “A exposição de artes é um dos maiores desafios, porque em geral uma exposição é pensada para quem vê. Para um cego, por exemplo, é preciso objetos táteis, maquetes em relevo ou espaços lúdicos onde seja possível mexer e interagir”, acrescenta.

Outras linguagens artísticas também podem ser utilizadas, como músicas e poemas. “É possível utilizar outras linguagens para auxiliar a compreensão e estimular a pessoa a compreender melhor aquela obra. Tudo isso envolve uma metodologia e um conceito diferente de exposição de arte, por isso o ideal é que toda a equipe pense a acessibilidade como um dos itens do projeto, desde o início”, argumenta Amanda. O resultado, reforça a especialista, é uma exposição capaz de acolher a todos. “As exposições que pensam a acessibilidade desde a sua concepção podem ser melhores para todos os públicos. É uma exposição na qual você entra e consegue se envolver porque há estímulos dos sentidos que tocam mais na emoção, há mais compreensão e interação”, completa.
 
Arte e cultura sem distinção
Conheça algumas atividades e programações inclusivas Em São Paulo
 
Bibliotecas Acessíveis
Em unidades do Sesc, há bibliotecas acessíveis que possuem aparelhos inclusivos de leitura. O recurso está disponível nas unidades Belenzinho, Bom Retiro, Centro de Pesquisa e Formação, Santo Amaro, Santo André, Jundiaí, Sorocaba e São Carlos.

Festival Sesc Melhores Filmes Cinesesc
Desde 2010, o CineSesc exibe todos os filmes da programação do Festival Sesc Melhores Filmes com serviços de audiodescrição. A edição 2017 do festival ocorre em abril.

Museu do Futebol
O Museu do Futebol é o primeiro museu da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo planejado para ser acessível. Há audioguia para cegos, atendimento qualificado a todos os públicos, totens informativos em português, inglês, espanhol e Braille em todas as salas do Museu, maquetes táteis e imagens em relevo que permitem a transposição de conteúdos de algumas salas expositivas da exposição de longa duração.
Praça Charles Miller, s/nº
Terça a domingo: 9h às 16h (permanência até as 17h); sábado, domingo e feriado: 10h às 17h (permanência até as 18h)


Galeria Tátil – Pinacoteca
Na exposição com 12 esculturas táteis, em bronze, de artistas como Rodolfo Bernardelli, Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Amilcar de Castro, entre outros, é possível compreender e apreciar as obras tocando nelas. Há recursos de apoio, como folder e catálogo em dupla leitura (tinta e Braille), além de audioguia elaborado especialmente para o público-alvo participante dessa exposição. O percurso de visitação é orientado por um piso tátil, que permite e indica um caminho para a exploração das obras que se encontram nessa galeria. A iniciativa faz parte do projeto Museu para Todos, que realiza também visitas educativas aos sábados e outros programas educativos e formativos para professores e públicos diversos.
Praça da Luz, 2
Quarta a segunda, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)


Falado ao vivo – Sesc Pompeia
O filme Fragmentos da Vida (1929), de José Medina, narra a história de dois vagabundos que vivem de pequenos golpes nas ruas da São Paulo dos anos 1920. Nesse experimento cênico, atores falam o texto original dos letreiros do filme, realizado originalmente sem uso da palavra falada, e um deles – surdo – interpreta em Libras. Cantores e piano ao vivo resgatam a sonorização característica das projeções do começo do século 20.
De 17 a 19/3, sexta e sábado às 21h e domingo às 19h.

Memorial da Inclusão
O Memorial da Inclusão: Os Caminhos da Pessoa com Deficiência trata do tema e da inclusão das pessoas com deficiência por meio do registro da memória e da história das lutas por uma sociedade cada vez mais democrática e aberta à diversidade. O espaço também promove monitorias especializadas para professores, crianças, jovens aprendizes e público em geral.
Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564, Portão 10, Barra Funda, São Paulo
Segunda a sexta-feira, das 10h às 17h


Para Todos Sesc Santana
Desde abril de 2015, o programa oferece filmes, espetáculos, shows e outras atividades inclusivas. Em março, a programação traz o espetáculo Constelações (19/3, às 18h) e o infantil A vota ao mundo em oitenta dias (26/3, às 14h) com serviço de audiodescrição e tradução para Libras.


Confira a matéria na integra no link:
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/10732_ACESSO+PARA+TODOS


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