Essa matéria foi reproduzida da página da Revista E do Sesc, com a matéria Acesso para Todos. A pesquisadora desse blog em dança inclusiva e acessível cultural Daniella Forchetti, juntamente com as professoras convidadas Amanda Tojal e Lívia Motta falaram sobre os recursos de mediação, 
audiodescrição e tradução, exposições, espetáculos, filmes e espaços de 
cultura que ampliam a inclusão de pessoas com deficiência. 
 
 Foto: Divulgação da Revista E 
  
Quarenta e cinco milhões de pessoas no Brasil têm algum tipo de 
deficiência. É o que mostra o último Censo, de 2010. Somente no estado 
de São Paulo, são quase 9 milhões, o que representa perto de um quarto 
da população da região. Diminuir as barreiras encontradas por esse 
público para o acesso a espetáculos, peças, exposições, filmes e 
atividades culturais tem sido um dos desafios dos últimos anos, e cada 
vez mais espaços têm se mostrado sensíveis a essa necessidade.
 
 Na capital paulista, em teatros como o do Sesc Santana, Centro Cultural
 São Paulo, Tom Brasil e Sérgio Cardoso já se tornaram frequentes as 
apresentações de espetáculos com audiodescrição e interpretação em 
Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cinemas também começam a se 
preparar para a exibição de filmes com acessibilidade, principalmente 
após a Instrução Normativa 128/2016, segundo a qual todas as salas terão
 até dois anos para fazer as adaptações necessárias para oferecer 
legendagem descritiva, audiodescrição e Libras.
 
 “No Brasil, São Paulo é um estado que tem se destacado por ter espaços 
de exposições, espetáculos e cinema que estão se abrindo para oferecer 
recursos de acessibilidade como audiodescrição e tradução para Libras”, 
observa a audiodescritora e pesquisadora em Inclusão Daniella Forchetti.
 “Além disso, outro estímulo se deve ao fato de que hoje muitas leis de 
incentivo pedem, como contrapartida, que se ofereçam espetáculos com 
audiodescrição ou Libras.”
 
 A doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Lívia Maria 
Villela de Mello Motta percebe que espaços culturais, produtores de 
espetáculos e produtos audiovisuais, incentivados por políticas públicas
 de acessibilidade, têm começado a se dar conta da importância desse 
público que precisa de recursos comunicacionais para ter acesso à arte. 
“Não dá mais para conceber um espetáculo, um produto audiovisual ou uma 
exposição sem levar em consideração o acesso de todos os públicos. Os 
recursos de acessibilidade arquitetônica e comunicacional utilizados em 
uma exposição para pessoas com deficiência, como maquetes táteis, 
audioguias, piso tátil, placas em dupla leitura, pranchas em relevo e 
outros, chamam também a atenção do público em geral e valorizam o 
espaço”, avalia Lívia, que destaca ainda a necessidade de se prepararem 
funcionários, monitores e educadores para o atendimento a pessoas com 
deficiência.
 
 A museóloga e educadora em museus Amanda Tojal defende que se pense a 
acessibilidade sempre como um tripé. “Temos que pensar na acessibilidade
 física, que leva em conta a construção de um espaço que permita que as 
pessoas entrem, circulem e saiam com segurança; na comunicacional, com 
recursos para facilitar o entendimento de diversos públicos; e na 
atitudinal, que cuida da formação, do atendimento ao público e da 
recepção das pessoas com deficiência”, afirma.
 
 
Na prática
 
 Lívia explica que a audiodescrição é um recurso de acessibilidade 
comunicacional que amplia o entendimento das pessoas com deficiência 
visual, seja de um espetáculo, um produto audiovisual ou um evento: “É 
um tipo de tradução que transforma imagens em palavras, do meio visual 
para o verbal. Esse recurso se destina à pessoa com deficiência visual, 
pessoas com deficiência intelectual, com autismo, déficit de atenção, 
dislexia, idosos, crianças e outras pessoas sem deficiência, pois dá 
muito mais independência e autonomia ao indivíduo”.
 
 Para fazer a audiodescrição, é preciso elaborar um roteiro, que costuma
 contar com a consultoria de uma pessoa com deficiência audiovisual. No 
caso de uma peça de teatro, por exemplo, os responsáveis pela 
audiodescrição precisam estar interados de todo o material do 
espetáculo, incluindo texto, e-flyer, release, cronograma de ensaios e 
um vídeo do espetáculo na íntegra para elaborar o roteiro de 
audiodescrição. No dia do espetáculo, são utilizados equipamentos como 
os da tradução simultânea, em uma cabine acústica onde fica o 
audiodescritor, que transmite todos os elementos visuais para a pessoa 
com deficiência por meio de um receptor e um fone de ouvido.
 
 Há uma série de cuidados a serem tomados na implementação da 
audiodescrição, seja em um teatro, museu ou cinema. “Não se trata apenas
 de oferecer o serviço, ou seja, preparar o roteiro de audiodescrição, 
fazer a revisão e a narração. É muito mais do que isso. É preocupar-se 
com a divulgação, a preparação de convites acessíveis, com fazer chegar a
 informação até o público-alvo. É saber como esse público chega ao local
 e informar sobre os meios possíveis de transporte, linhas de ônibus, a 
proximidade com metrô. É interagir com esse público, conhecer suas 
preferências, a apreciação que fazem do serviço”, comenta Lívia.
 
 Daniella lembra que a audiodescrição tem ainda uma função mediadora. 
“Você não só informa, mas cria formas para que a pessoa possa interagir 
com a obra, pensar sobre a obra e se relacionar com aquilo, 
principalmente de forma autônoma, com potencial para desfrutar, como a 
fruição da arte pede”, avalia a pesquisadora. “Não deixa de ser um 
material educativo e que abre novas possibilidades para que as pessoas 
possam interagir e pensar as obras de forma diferente, trazendo uma 
outra vivacidade na relação com o espectador.”
 
 Entre as diversas atividades de mediação que podem complementar a 
fruição artística, está a confecção de painéis táteis ilustrativos, 
maquetes, bonecos, visitas ao cenário do espetáculo, interação com 
artistas e bate-papo com o diretor. “Temos tido a oportunidade de 
trabalhar com essas atividades de mediação no Sesc Santana no projeto 
Para Todos, desde o ano passado, e tem sido uma experiência muito 
bem-sucedida. Em peças ou filmes infantis, as crianças podem tocar 
bonecos, painéis táteis, fazer atividades que ampliam o entendimento e 
que, aliadas à audiodescrição, tornam a experiência inesquecível. Também
 para adultos, temos feito visitas ao cenário, contato com objetos 
cênicos e figurinos, oficinas de dança para melhor compreensão das 
coreografias”, conta Lívia. “Como resultado positivo, temos percebido a 
ampliação e a fidelização do público, principalmente do público 
infantil, o interesse do público sem deficiência pelas atividades e 
pelos recursos de acessibilidade.”
 
 
Sentir para ver
 
 Criar experiências acessíveis, muitas vezes, implica superar desafios. 
Em museus, onde os objetos são muito importantes, não basta apenas uma 
descrição do que está lá exposto. Amanda lembra que quem vai a uma 
exposição busca fruir as obras, participar, e não só ouvir. “A exposição
 de artes é um dos maiores desafios, porque em geral uma exposição é 
pensada para quem vê. Para um cego, por exemplo, é preciso objetos 
táteis, maquetes em relevo ou espaços lúdicos onde seja possível mexer e
 interagir”, acrescenta.
 
 Outras linguagens artísticas também podem ser utilizadas, como músicas e
 poemas. “É possível utilizar outras linguagens para auxiliar a 
compreensão e estimular a pessoa a compreender melhor aquela obra. Tudo 
isso envolve uma metodologia e um conceito diferente de exposição de 
arte, por isso o ideal é que toda a equipe pense a acessibilidade como 
um dos itens do projeto, desde o início”, argumenta Amanda. O resultado,
 reforça a especialista, é uma exposição capaz de acolher a todos. “As 
exposições que pensam a acessibilidade desde a sua concepção podem ser 
melhores para todos os públicos. É uma exposição na qual você entra e 
consegue se envolver porque há estímulos dos sentidos que tocam mais na 
emoção, há mais compreensão e interação”, completa.
  
Arte e cultura sem distinção
 Conheça algumas atividades e programações inclusivas Em São Paulo
  
Bibliotecas Acessíveis
 Em unidades do Sesc, há bibliotecas acessíveis que possuem aparelhos 
inclusivos de leitura. O recurso está disponível nas unidades 
Belenzinho, Bom Retiro, Centro de Pesquisa e Formação, Santo Amaro, 
Santo André, Jundiaí, Sorocaba e São Carlos.
 
 
Festival Sesc Melhores Filmes Cinesesc
 Desde 2010, o CineSesc exibe todos os filmes da programação do Festival
 Sesc Melhores Filmes com serviços de audiodescrição. A edição 2017 do 
festival ocorre em abril.
 
 
Museu do Futebol
 O Museu do Futebol é o primeiro museu da Secretaria de Cultura do 
Estado de São Paulo planejado para ser acessível. Há audioguia para 
cegos, atendimento qualificado a todos os públicos, totens informativos 
em português, inglês, espanhol e Braille em todas as salas do Museu, 
maquetes táteis e imagens em relevo que permitem a transposição de 
conteúdos de algumas salas expositivas da exposição de longa duração.
 
Praça Charles Miller, s/nº
 Terça a domingo: 9h às 16h (permanência até as 17h); sábado, domingo e feriado: 10h às 17h (permanência até as 18h)
 
 Galeria Tátil – Pinacoteca
 Na exposição com 12 esculturas táteis, em bronze, de artistas como 
Rodolfo Bernardelli, Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Amilcar de Castro, 
entre outros, é possível compreender e apreciar as obras tocando nelas. 
Há recursos de apoio, como folder e catálogo em dupla leitura (tinta e 
Braille), além de audioguia elaborado especialmente para o público-alvo 
participante dessa exposição. O percurso de visitação é orientado por um
 piso tátil, que permite e indica um caminho para a exploração das obras
 que se encontram nessa galeria. A iniciativa faz parte do projeto Museu
 para Todos, que realiza também visitas educativas aos sábados e outros 
programas educativos e formativos para professores e públicos diversos.
 
Praça da Luz, 2
 Quarta a segunda, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)
 
 Falado ao vivo – Sesc Pompeia
 O filme Fragmentos da Vida (1929), de José Medina, narra a história de 
dois vagabundos que vivem de pequenos golpes nas ruas da São Paulo dos 
anos 1920. Nesse experimento cênico, atores falam o texto original dos 
letreiros do filme, realizado originalmente sem uso da palavra falada, e
 um deles – surdo – interpreta em Libras. Cantores e piano ao vivo 
resgatam a sonorização característica das projeções do começo do século 
20.
 
De 17 a 19/3, sexta e sábado às 21h e domingo às 19h.
 
 Memorial da Inclusão
 O Memorial da Inclusão: Os Caminhos da Pessoa com Deficiência trata do 
tema e da inclusão das pessoas com deficiência por meio do registro da 
memória e da história das lutas por uma sociedade cada vez mais 
democrática e aberta à diversidade. O espaço também promove monitorias 
especializadas para professores, crianças, jovens aprendizes e público 
em geral.
 
Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564, Portão 10, Barra Funda, São Paulo
 Segunda a sexta-feira, das 10h às 17h
 
 Para Todos Sesc Santana
 Desde abril de 2015, o programa oferece filmes, espetáculos, shows e 
outras atividades inclusivas. Em março, a programação traz o espetáculo 
Constelações (19/3, às 18h) e o infantil A vota ao mundo em oitenta dias
 (26/3, às 14h) com serviço de audiodescrição e tradução para Libras.
 
Confira a matéria na integra no link:
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/10732_ACESSO+PARA+TODOS